Conhecimento ecológico local de pescadores do sudeste e sul do Brasil sobre as toninhas(Pontoporia blainvillei)
O grupo de pesquisa Ecologia Humana do Oceano, sediado na Universidade Federal do Espírito Santo, no sudeste do Brasil, realizou um estudo sobre o golfinho Toninha-Franciscana(Pontoporia blainvillei) com pescadores tradicionais no sudoeste do Atlântico. A equipe de pesquisa realizou entrevistas em dez comunidades pesqueiras no sudeste e sul do Brasil.
A maioria dos pescadores que pescam na área de distribuição do golfinho-franciscana não conseguiu identificar essa espécie. Os pescadores que identificaram a Toninha explicam que esse golfinho é capturado acidentalmente em redes de emalhar. Normalmente, as carcaças são jogadas ao mar, mas a gordura e os músculos podem ser usados como isca para a pesca de tubarões e para o consumo humano. Esses pescadores não conhecem nenhuma solução para reduzir a captura acidental das toninhas.
O grau em que os pescadores podem identificar a toninha e fornecer dados sobre ela depende de encontros diretos com os animais. Consequentemente, o conhecimento local é influenciado pela presença da espécie nos locais de pesca, pelo tipo de equipamento de pesca utilizado e pelas características do habitat (áreas protegidas em oposição ao mar aberto). Essas condições facilitam ou dificultam a observação e o contato com a toninha, cujas características físicas e comportamentais já limitam suficientemente sua observação no ambiente.
O conhecimento dos pescadores sobre a toninha foi comparado entre as regiões estudadas e os pesquisadores descobriram que os pescadores do sul do país estavam mais familiarizados com a espécie do que os do sudeste do Brasil. Os resultados desse estudo sugerem que são necessárias medidas para aumentar a conscientização sobre a espécie nas comunidades pesqueiras estudadas, especialmente no sudeste do país, onde a toninha é menos conhecida.
Quando as condições eram favoráveis à identificação da espécie, os pescadores conseguiam determinar suas características e fornecer informações sobre as interações com a pesca. Assim, o conhecimento ecológico local está se mostrando uma ferramenta útil para a coleta de dados sobre as populações do golfinho-franciscana que se sobrepõem às áreas de pesca no Atlântico Sul ocidental.
Foi comprovado que o Conhecimento Ecológico Local (LEK) é inestimável para a conservação da vida selvagem, pois contribui para uma compreensão holística dos ecossistemas, melhora o planejamento e o gerenciamento da conservação e promove a preservação cultural e a capacitação das comunidades locais. A integração do LEK com outros conhecimentos científicos cria uma abordagem mais inclusiva e eficaz para a conservação de espécies, garantindo o bem-estar de longo prazo da vida selvagem e das comunidades locais. Com isso em mente, a YAQU PACHA está aumentando seu envolvimento e participação em projetos de LEK.
Leia também a publicação em PDF: Conhecimento ecológico local de pescadores do sul e sudeste do Brasil sobre o golfinho-franciscana Pontoporia blainvilleiEstratégias para conservação
O estudo foi financiado pela YAQU PACHA e.V.